segunda-feira, 24 de março de 2008

A estrada



Egito, cidade de Cairo, o calor era intenso, as tempestades de areia eram avassaladoras, as pessoas perambulavam de um lado para outro, turistas por todos os lados, os mercados estavam cheios de pessoas em busca da melhor oferta. O barulho era constante, o agito fazia do lugar uma espécie de arena, onde todos exaltavam sem perceber o caos ao redor.


Pude notar em toda esta confusão, um jovem turista que olhava para a multidão como se não fizesse parte dela. Parecia estar em outro mundo, parecia estar em outro lugar. Pude notar em seus olhos a indignação, o medo, a ansiedade e ao mesmo tempo, um sentimento inseguro. Na mão direita uma pedra, uma pedra azul que mais lembrava as ondas do oceano à cor dos olhos.


Pensei comigo, o que faz este rapaz aqui? - Atravessei o mercado, e fui em direção a ele. Em poucas palavras, pude notar que estava perdido, mas não no sentido literal da palavra, estava perdido dentro do seu próprio coração. Ele era mais um prisioneiro dos seus próprios sentimentos. Saímos do mercado central e caminhamos em direção contrária à multidão.


Enquanto as pessoas nos olhavam com ar de interrogação, em vestes típicas do lugar, esquecíamos do tempo. A cada passo, sua vida era desvendada por meio de palavras em tom de desabafo. Paramos num bar, pedimos uma bebida e ao longo da tarde fui invadindo sua privacidade, participando de suas aventuras e do seu romance.


A cada frase, a cada gole, percebia que a mulher em que ele falava, era realmente o amor da sua vida. Falava dela como se fosse uma deusa, e para ser sincero, o lugar era apropriado para romances e deuses. Enquanto contava sua história, percebia o brilho em seus olhos, parecia estar voltando ao tempo, parecia ser outra pessoa.


“Foram longos dias no hospital”, com esta frase percebi a emoção contida em seus olhos, o sentimento desabrochava como uma flor. Percebi realmente o amor que estava dentro dele. Descreveu cada cena, cada momento, cada minuto. E na mão sempre a pedra, a pedra azul. Confessou que antes do acontecido, estavam num bar, cantando, felizes, e as cenas que marcaram o momento, foram duas. A primeira foi quando ela dedicou uma canção para ele e a outra, quando o médico entrou na sala de espera da UTI e entregou uma sacola plástica com roupas. Ela ficara internada, o diagnóstico era complexo, precisava de mais exames. Só restava naquele momento rezar e aguardar.


Ele voltou para casa, com o último verso da canção. O perfume nas roupas em que trazia, fazia seu amor crescer e se fortificar de forma desproporcional. Sua mente estava tão abalada, que sequer percebeu a mudança de tempo, pois o frio era intenso e a chuva caía sem parar.


No meio da conversa, pedi mais uma rodada, e enquanto o garçom preparava nosso pedido, não hesitei e perguntei o porquê da pedra em sua mão. Era estranho, pois o modo como a segurava, parecia se tratar de uma pedra do passado, com tamanha importância, ou quem sabe, um amuleto, um presente, uma jóia...


Ele a fitou por um instante, pensou, olhou nos meus olhos e me respondeu com outra pergunta. – O valor das coisas é de acordo com o valor dos nossos sentimentos? - Por um momento fiquei sem saber o que falar, mas fui compreendendo a sua questão aos poucos, após cada palavra, cada reflexão.

Aquela pedra foi um presente da mulher que um dia mudou sua vida e sua maneira de pensar. Aquela pedra era mais que uma pedra, era um amuleto, era um pedaço dela, que dentro da bolsa, atravessou a América, a Europa, cruzando vários países, várias culturas, vários povos, onde, no fim de cada viagem, lá estava ela.


A pedra era o amor em forma de jóia, bastava olhar e já remetia em sua mente a figura e o momento do presente. Mas e agora? O que ele queria dizer com aquelas palavras? Ao longo do relato, as coisas ficaram mais transparentes, a história foi tomando forma, e pude notar o valor de sua pergunta.


Para ele, o amor não acabou, mas o fato de não estar mais junto dela, a pedra perdeu seu valor, seu encanto, como as coisas que fizeram juntos perderam a essência. Hoje é apenas uma pedra azul. O tempo foi o responsável pela causa e o efeito para isto acontecer. Talvez tenha faltado alguma coisa, algo que era necessário para não deixar o tempo e a distância atrapalharem sua história. Existem possibilidades, mas é preciso algo mais, é preciso ter consciência, coragem, humildade e muita determinação.


Peço a conta ao garçom, já é tarde, tenho que ir para o hotel. Pergunto a ele para onde vai, se está hospedado em algum lugar, e ele me responde que apenas vai seguir a estrada. - Qual estrada? - A estrada que um dia juramos seguir juntos. Ele caminha sem olhar para trás, sua figura vai sumindo aos poucos, entre o vento forte e a paisagem distorcida pela areia. Ele se vai, sem ao menos falar seu nome e a do seu amor, a única coisa que sei, é que ele vai embora com a pedra, a pedra azul.

Alexandre Ofélio




Feliz Páscoa?


Ao acordar, lembrei-me: Hoje é Páscoa, mais um domingo onde as pessoas desejam a todos, um dia repleto de felicidades. Entre eles, a nossa família, amigos, vizinhos, companheiros, enfim, presenteamos com ovos de chocolates, nos mais diversos formatos, cores e recheios. E tudo isso com a ajuda do nosso velho amigo "coelhinho".

Mas ao sair, caminhando pelas ruas, encontro um mundo diferente. Um mundo onde não existe paz, onde não existe igualdade social. Nos jornais posso ler de cafetina famosa à violência. Crianças pedindo esmolas para comprarem drogas, outras querem comida, pois não tem em casa, ou melhor, elas NÃO tem casa.

A situação é caótica, ninguém vê, ou quem sabe, não querem ver. Na televisão só programas sensacionalistas, que deixam como pauta principal a violência, pois isso dá ibope. Falar de ajudar as pessoas, não é bom, não da audiência. A mídia empobrece cada vez mais, e os seus profissionais, ao longo do tempo, vão se esquecendo dos valores, da ética, do sentimento, do ser humano.

E as nossas crianças? Nossos idosos? Nossa sociedade? É nisso que penso todos os dias. Temos que encontrar uma solução, uma saída, fazer algo pelo próximo, da criança ao idoso, sem distinção de classe ou de cor. Precisamos fazer algo agora, pois amanhã poderá ser tarde.

Nesta semana, o vídeo da Universidade de Free State, África do Sul, causou comoção no mundo inteiro. Um aluno "branco" prepara uma tigela de "jaggie", cozido de frutas e legumes, e logo depois urina dentro. Dá para os empregados negros, que estão ajoelhados, e ao comerem, vomitam. No fim do vídeo, a frase, em "africâner", língua derivada do Holandês, que provocou e chocou o mundo: "Isso é o que chamamos de integração". Isso foi uma resposta dos alunos "brancos", após a universidade propor aos mesmos, a integração nos dormitórios.

Que integração é esta? Onde está o respeito ao ser humano? Por que estas atitudes? Estas perguntas ficam por aqui, juntamente com a questão inicial do texto: Podemos desejar a todos uma Feliz Páscoa? Tenham uma boa semana,e, reflitam...
Alexandre Ofélio

segunda-feira, 17 de março de 2008

Meu primeiro inverno


O frio era intenso, já era noite, estávamos exaustos. A viagem foi cansativa e agora já nem sabíamos ao certo onde nos encontrávamos. A cada parada, o cenário mudava, as placas já não eram no mesmo idioma, ou seja, o país era outro. Em cada lugar, um sotaque, uma cultura, um modo, um rosto diferente.
A casa (local do show) estava cheia e a ansiedade era grande, pois já sabíamos que os brasileiros eram poucos, e o público principal era europeu. O nome da cidade era Lugano, ou melhor, Suiça Italiana. Para quem não sabe, a Suiça se divide em três partes, a francesa, a alemã e a italiana.
O clube era familiar, no andar de cima ficavam os quartos, no melhor estilo “alpes suiços”, no térreo, o bar, e do outro lado, o local para o show. No meu relógio marcava 01h 30m da manhã, nossa entrada era às 02h 30m, e para nos presentear, a neve estava presente.
A sala era pequena, rústica, as paredes eram de madeira, juntamente com a mesa e as cadeiras, a iluminação era pouca. O lustre era baixo, só havia uma pequena janela de vidro, sem cortinas, e por ela eu admirava os flocos de neve, como um sonho.
Não pensei duas vezes, desci para o bar, comprei um cartão e liguei para o Brasil, precisava desabafar, ou melhor, precisava me encontrar. Do lado de fora a cena era cinematográfica, ao redor da casa eram só montanhas, brancas por natureza, e só havia uma rua para sair ou chegar. A visão era linda, o inverno europeu estava chegando.
As pessoas andavam de um lado para o outro, bebendo, falando alto, namorando, aguardando a atração da noite. Eu, deslumbrado, era minha primeira vez na Europa, na neve, nunca estive em tantos países de uma só vez. Era estranho, estávamos no mesmo lugar, porém, cada um na sua “viagem”.
O frio estava cada vez mais forte, a neve aumentava conforme os ponteiros do relógio, no mesmo compasso. A noite estava perfeita, tudo se encaixava, todos estavam felizes.
Eu, em outro mundo, ou melhor, do outro lado do mundo. Minha felicidade era maior do que tudo naquela hora. E falando em “horas”, já eram 02h30m, era mais um show num inverno igual, como todos os anos, mas para mim, era diferente, era meu primeiro inverno europeu...

segunda-feira, 3 de março de 2008

Gabriela Duarte faz leitura em São Paulo

No dia 11 de Março, Gabriela Duarte, atriz, realizará em São Paulo mais um evento cultural. Ela irá fazer a leitura do texto "Hedda Gabler", escrito em 1890, de autoria de Henrik Isen, norueguês, dramaturgo, que ficou conhecido no Brasil especialmente por esta obra.

O evento será apresentado no ciclo de leituras 'Caixa Cênica' e será realizado na Caixa Cultural. O local escolhido é mais um presente para os paulistanos: Praça da Sé, 111.

No evento, a atriz participa de leituras dramáticas juntamente com escritores e artistas. Uma curiosidade é que o ator Francisco Cuoco, ao longo da carreira participou de vários projetos, inclusive o de fazer chamadas na época em que a atriz Dina Sfat participou.

A obra teve três montagens, a primeira com tradução de Clarice Lispector, em 1960. A segunda acorreu nos anos 80, traduzido por Millôr Fernandes e agora a mais recente, com tradução e texto de Rubem Fonseca. A peça transcreve o papel da mulher em nossos dias fazendo o espectador refletir e analisar sobre a própria existência. Confira.


Alexandre Ofélio