Era noite de inverno, meados de 1970, ninguém perambulava pelas ruas, o medo era incontrolável. A repressão dominou, podou nossos sonhos, não tínhamos o direito de expressão, o povo calado e a imprensa com a boca amordaçada.
Ao entrar no prédio percebi que não tinha mais volta, as paredes eram brancas, vazias como nossos destinos. Não tínhamos o direito de falar, vomitar nossas angústias, nossas lutas estavam sentenciadas. Era o fim de todos nós, de artistas a jornalistas.
Você quer saber onde eu estava? Desculpe, esqueci de revelar o local, estou nervoso, talvez seja isto. O endereço era Rua Tutóia, nº 1000 – Bairro do Paraíso, na sede do DOI-CODI – Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações da Defesa Interna – Na sala do Setor de Análises e Interrogatórios.
Sentei-me no chão, a sala era pequena, vazia, ou melhor, havia uma mesa no canto esquerdo, nenhum quadro na parede, apenas um ar de esperança pairava no local. O medo tomava conta da minha mente, quem iria me interrogar? O que fiz? Por que eu?
Depois de algumas horas surge um senhor trajando roupas escuras, carrancudo, ar desconfiado, especulador, contra minhas idéias antes mesmo de saber quais eram. Deu-me uma folha em branco e pediu para colocar todos os meus dados e descrever uma lista das pessoas com quem andava, trabalhava, enfim, militava.
Após preencher todas as questões fui encaminhado para outra sala, desta vez escura, fria, o cheiro forte de urina era insuportável. Quantas pessoas não morreram ali? E se eu gritasse? Meu Deus, o que será de mim? Será que ninguém vai me ouvir?
Fiquei sentado por alguns minutos quando entraram dois homens, não podia enxergá-los direito, apenas a silhueta, levantei-me e perguntei o porquê de estar ali naquela situação, nada fiz, quando poderei sair? Eles não falaram nada, apenas o vulto, caí no chão - não vi, não senti nada, apenas um golpe na cabeça foi o suficiente para eu desmaiar (silêncio na sala).
Depois de horas eu levantei e olhei para os lados, não entendi nada, cadê os homens, a sala escura, o cheiro de urina e a minha cabeça? Estava tudo normal, foi apenas um sonho. Um sonho que não desejo a ninguém, mas que infelizmente durou a noite toda.
Agora estou aqui, sentado na frente do computador, ouvindo Chico Buarque, com total liberdade de colocar o que quiser neste blog. Sem dúvida, a ditadura foi embora, mas se paramos para pensar ela ronda nossos dias com outro nome, outra forma, disfarçada. E o Dói-Codi? Apenas mudou de endereço e de farda...
Ao entrar no prédio percebi que não tinha mais volta, as paredes eram brancas, vazias como nossos destinos. Não tínhamos o direito de falar, vomitar nossas angústias, nossas lutas estavam sentenciadas. Era o fim de todos nós, de artistas a jornalistas.
Você quer saber onde eu estava? Desculpe, esqueci de revelar o local, estou nervoso, talvez seja isto. O endereço era Rua Tutóia, nº 1000 – Bairro do Paraíso, na sede do DOI-CODI – Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações da Defesa Interna – Na sala do Setor de Análises e Interrogatórios.
Sentei-me no chão, a sala era pequena, vazia, ou melhor, havia uma mesa no canto esquerdo, nenhum quadro na parede, apenas um ar de esperança pairava no local. O medo tomava conta da minha mente, quem iria me interrogar? O que fiz? Por que eu?
Depois de algumas horas surge um senhor trajando roupas escuras, carrancudo, ar desconfiado, especulador, contra minhas idéias antes mesmo de saber quais eram. Deu-me uma folha em branco e pediu para colocar todos os meus dados e descrever uma lista das pessoas com quem andava, trabalhava, enfim, militava.
Após preencher todas as questões fui encaminhado para outra sala, desta vez escura, fria, o cheiro forte de urina era insuportável. Quantas pessoas não morreram ali? E se eu gritasse? Meu Deus, o que será de mim? Será que ninguém vai me ouvir?
Fiquei sentado por alguns minutos quando entraram dois homens, não podia enxergá-los direito, apenas a silhueta, levantei-me e perguntei o porquê de estar ali naquela situação, nada fiz, quando poderei sair? Eles não falaram nada, apenas o vulto, caí no chão - não vi, não senti nada, apenas um golpe na cabeça foi o suficiente para eu desmaiar (silêncio na sala).
Depois de horas eu levantei e olhei para os lados, não entendi nada, cadê os homens, a sala escura, o cheiro de urina e a minha cabeça? Estava tudo normal, foi apenas um sonho. Um sonho que não desejo a ninguém, mas que infelizmente durou a noite toda.
Agora estou aqui, sentado na frente do computador, ouvindo Chico Buarque, com total liberdade de colocar o que quiser neste blog. Sem dúvida, a ditadura foi embora, mas se paramos para pensar ela ronda nossos dias com outro nome, outra forma, disfarçada. E o Dói-Codi? Apenas mudou de endereço e de farda...
5 comentários:
Boa Gafanhoto...belo texto...meio grande para os padrões on line mais vc tinha que escrever é bom aproveitar a inspiração!!!!! Depois fala que eu não te dou moral no blog hein!! Abração!!!
Ainda bem que não vivemos essa época e tudo não passou de um sonho.
Péssimo sonho, belo texto.
Abs,
Marcão.
de onde vc tirou isso hein?! kkkk
coisa de doido!
bjs
Muito bom o seu texto. Adorei
bjossssss
Bela crônica. Às vezes, repressão pode estar dentro de nós...
Cuidado!!
Abraços
João
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